Cap. 53

Tendo o invasor em sua mira, o prefeito respira ofegante. Zayn percebe que a mão que segura a arma está cada vez mais trêmula.

O suor começa a escorrer pelo rosto de McQueen. Ele já não sente o ar entrando em seus pulmões e nem usando as duas mãos consegue mais manter sua arma apontada ao invasor.

O trapezista sorri. Acostumado a sentir a morte em cada espetáculo, ele percebe que não está mais em perigo.

Caminhando tranquilamente até o prefeito ele diz: — Você não consegue, não é velho?

Com um tapa, o marroquino separa McQueen de sua arma, cada um caindo em um canto da sala.

Zayn caminha até o quarto e certifica-se de que não há mais ninguém lá. Voltando-se ao prefeito ele se curva, aproximando-se do homem que treme no chão em posição fetal e sussurra:

— Já que você não serve para brigar, pode pelo menos me dizer onde está Augustus?

O prefeito não faz ideia de quem seja Augustus, mas isso não faz diferença. Ele não conseguiria dizer nada com seus dentes travados como os de um paciente terminal de tétano. Seu rosto é uma mistura de suor, lágrimas, coriza e decadência.

— Normalmente os covardes são bons delatores, mas nem para isso você serve. — zomba o trapezista enquanto passa a lateral da faca que pegou na cozinha pelo rosto gosmento de McQueen e prossegue: — Você é um inútil. Deve ser horrível viver assim. Mas você é um homem de sorte, eu vim acabar com sua vergonha e sofrimento.

O prefeito tenta respirar, mas não controla nem mesmo seus olhos naquele momento. Pegar aquela arma foi a pior ideia que ele poderia ter tido. Enfrentar o invasor com as mãos limpas lhe daria mais chances, mesmo considerando sua idade, peso e todo o estrago que o álcool já havia feito em seu corpo, músculos e reflexos.

Alheio aos problemas internos de McQueen (na verdade, até agradecido a eles), Zayn apanha a arma do prefeito e olhando para ela e para a faca, indaga em voz alta:

— A questão aqui é sabermos quanto eu estou disposto a me divertir antes de finalmente terminar com esse espetáculo triste que você chama vida. O que você acha, velho? Devo ser rápido ou podemos brincar mais um pouco juntos antes?